
Em 2014, a Operação Lava Jato chegou à Petrobras para investigar indícios de esquemas de corrupção que supostamente envolveriam empreiteiras, fornecedores, políticos, agentes de lavagem de dinheiro e altos escalões da estatal.
Segundo o Ministério Público Federal, a base do esquema seria o superfaturamento de contratos: mais de 20 empresas organizadas em cartel pagariam propinas a políticos e diretores da companhia a fim de garantirem contratos com a Petrobras.
O problema é que a operação não serviu apenas para apurar desvios. Foi usada com fins políticos e econômicos para desestabilizar o governo e enfraquecer a estatal.
Poderia ter sido diferente
Corruptos e corruptores poderiam ter sido presos sem o drástico abalo provocado pela Lava Jato à imagem da Petrobras, da economia e da política do Brasil: milhares de empresas da cadeia petrolífera e da indústria naval foram prejudicadas. 23 empresas sob suspeita foram cortadas dentre os fornecedores da estatal. Obras e contratos foram paralisados e centenas de milhares de trabalhadores de empresas terceirizadas ficaram desempregados.
A participação do setor de óleo e gás, que já chegou a 12% do Produto Interno Bruto (PIB) encolheu.
Na maioria dos países desenvolvidos, quando funcionários e diretores de grandes empresas são pegos em escândalos, o procedimento “normal” é a responsabilização dos envolvidos, perante a Justiça [veja aqui alguns exemplos]. Preserva-se a empresa, especialmente aquelas que são fundamentais para a economia do país. Também é comum que os envolvidos nunca mais possam ter relação com a empresa, mesmo se ela for familiar.
Mas no Brasil a opção dos grupos interessados na destruição da estatal foi diferente. Tanto o juiz responsável como os procuradores (hoje sabe-se que ambos combinavam, de forma ilegal, ações com objetivos políticos), os partidos derrotados na eleição em 2014 e os grupos da velha mídia tradicional brasileira (cujos parceiros e anunciantes tinham interesse em ver a Petrobras quebrada) adotaram a prática de atacar a Petrobras. Em vez de expor apenas os envolvidos, queriam desacreditar a estatal diante da opinião pública.
A maioria dos empresários envolvidos tiveram penas leves, em troca de delações premiadas firmadas mesmo sem oferecerem provas concretas, passando pouco tempo preso. E mesmo aqueles que tiveram que devolver recursos aos cofres públicos puderam preservar seu patrimônio e sua relação com as empresas.
A construção do escândalo
A ideia (falsa) de que a corrupção quebrou a Petrobras era cotidianamente alimentada pela imprensa – sem provas, apenas baseada em vazamentos ilegais de delações. Dessa forma, enquanto ajudava a Lava Jato a construir o escândalo, a grande mídia ignorava outros elementos que afetavam a estatal no mesmo período:
- Seu valor de mercado foi reduzido pela crise internacional do petróleo, que derrubou o preço do barril de mais de US$ 100 (agosto de 2014) para menos de US$ 40 (dezembro de 2015).
- Tendo 80% de financiamentos em moeda estrangeira, o endividamento em reais da estatal se elevou pela intensa variação cambial, com forte alta do dólar, de R$ 2,50 (outubro de 2014) para R$ 4 (setembro de 2015).
Embora a crise do petróleo tenha enfraquecido todas as petroleiras globais, encolhendo seus valores, investimentos e atividades, a imagem da Petrobras foi arrasada pela Lava Jato e por parte da imprensa.
Todos os dias, um sensacionalismo crescente forçava uma relação entre corrupção e crise, o que não era verdade (já que a crise era do mercado internacional de petróleo). Até aquele 2014, a Petrobras acumulava lucros imensos durante todos os anos.
A estatal passou a ser cobrada pelo mercado e por segmentos políticos, que queriam um “novo modelo” de companhia. Na prática, desejavam que ela deixasse de beneficiar os brasileiros para dar ganhos a interesses privados.
Em 2014, o relatório de demonstrações financeiras da estatal anunciava a redução do ritmo de investimentos devido ao impacto da Lava Jato e alterações em sua conjuntura de negócios. A partir daí, buscou-se maior geração de valor para acionistas, venda de ativos para quitar os financiamentos, e a inserção da política internacional de preços de combustíveis ao mercado nacional.
Consequências
Tudo isso abriu caminho para que o governo Temer começasse a esfacelar a Petrobras, com a entrega do Pré-sal para empresas estrangeiras e a venda de ativos e privatizações de subsidiárias. Os interesses privados passaram a valer mais do que as necessidades dos brasileiros. E o governo de Jair Bolsonaro apenas deu continuidade à política de desmonte da Petrobras.
A Petrobras não estava quebrada, mas em 2016 já tinha seu papel diminuído na economia brasileira. Os investimentos caíram de US$ 252 bilhões (2009 a 2014) para US$ 98 bilhões (2014 a 2018). De 360.180 trabalhadores terceirizados (2013 a 2016), a estatal passou para 117.555, e demitiu 16,5 mil funcionários (2014 a 2018).
Em vez de preservar a Petrobras e a economia, aqueles interessados na destruição da estatal jogaram o país em um abismo econômico e social. Até hoje a população brasileira é afetada.
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