Em meio à maior crise internacional de petróleo dos últimos anos, a atual gestão da Petrobras parece não ter entendido o tamanho do problema e também o caminho correto que deveria percorrer: valorizar o refino e ficar menos dependente das exportações de petróleo cru e da importação de combustíveis e derivados, que têm sido a política predominante desde 2016.
No dia 26 de março, a direção anunciou um pacote de medidas em que amplia o processo de desmanche da empresa e não traz mudanças que poderiam ser fundamentais para que a empresa pule na frente no que se considera um novo mundo do petróleo, que se avizinha por causa da pandemia do Coronavírus, causador da Covid-19.
A pandemia causou a diminuição da utilização de combustíveis – devido à redução da mobilidade interna no país durante a pandemia (isso também aconteceu na maioria dos países) -, retração da demanda por petróleo cru e queda do preço do barril no mercado mundial.
Mesmo diante da redução da demanda, a gestão optou por não reposicionar a empresa no segmento de abastecimento, tendo anteriormente reduzido o processamento nas refinarias. Desacelerou também os investimentos, de US$ 12 bilhões para US$ 8,5 bilhões, adiando atividades exploratórias, interligação de poços e construção de instalações de poços e refino. E anunciou a aceleração de redução de gastos operacionais em US$ 2 milhões, principalmente hibernando a exploração de poços de águas rasas, onde o custo é maior.
Em resumo, a gestão da estatal escolheu trabalhar mais estritamente com a exploração do Pré-Sal, cujo custo de exploração é menor, e acelerou seu plano de desinvestimentos.
A curto prazo, pode reduzir os impactos da crise no caixa da companhia, mas a longo prazo mostra falta de visão ao não acertar o posicionamento no pós-crise. Não por acaso, a Petrobras perdeu quase metade do seu valor por causa da crise, enquanto outras empresas, que continuam focando no refino e na produção de derivados tiveram quedas bem menores (a chinesa Sinopec chegou a ter seu valor aumentado).
A atual gestão da Petrobras erra em seguir desprezando o refino de combustível. Em algumas refinarias, a diminuição deve chegar a 40%, em comparação com o fim de 2018. O setor de abastecimento, que poderia ser útil, não estará sendo usado como maneira de amenizar a crise.
Diante da queda de consumo nacional, seria mais estratégico a Petrobras ao menos manter a capacidade de refino pré-crise. Melhor ainda seria adequá-la para que suprisse a demanda interna nacional e deixasse de comprar combustível importado. Com isso, a empresa ficaria mais protegida das variações do mercado e poderia gerar mais empregos, fornecer combustível mais barato e ajudar a alavancar a economia nacional, gerando posteriormente mais demanda e mais lucros.
O plano da administração não informa quais serão os projetos impactados pela redução dos investimentos. Isso seria importante para entender a capacidade dela no pós-crise. O caminho mais sensato é entender que o Pré-Sal é estratégico com excelentes resultados operacionais, mas que a manutenção da empresa integrada é necessária para ter como absorver os impactos das perdas na extração e produção.
As medidas anunciadas apontam apenas cortes e reduções de investimentos, mas não dão saídas para o futuro, quando estivermos diante de uma nova conjuntura.
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