No mês de março, estourou a maior crise mundial do petróleo das últimas décadas. Naquele momento, o preço internacional do barril despencou com a queda da demanda, causada pela pandemia do Coronavírus, e com a disputa comercial entre Rússia e Arábia Saudita – os dois maiores exportadores de petróleo cru do mundo, que não diminuíram sua produção. Isso gerou excesso de oferta.
Aqui no Brasil, a Petrobras anunciou várias reduções de preços nas refinarias.
Mas essa redução não chegou completamente às bombas nos postos de combustíveis. E nem aos consumidores.
Entenda como a venda do controle acionário da BR Distribuidora, em julho de 2019, tem grande parte nisso.
O cenário anterior
A BR Distribuidora foi criada em 1971 pela Petrobras, em um momento em que a demanda por combustíveis crescia bastante. Naquele cenário, as multinacionais já tinham suas distribuidoras operando e dominando o mercado.
A BR Distribuidora começou com pouco mais de 20% do mercado, mas se tornou a maior distribuidora do país em 1974. O segredo estava justamente em ter todos os processos dentro da mesma empresa, reduzindo custos (o que é hoje a tendência das grandes empresas). Era a Petrobras do poço ao posto.
As três grandes viraram duas
Em 2016, cerca de 80% do mercado brasileiro de distribuição de combustíveis estava com três empresas: a própria BR Distribuidora, a Ipiranga e a Shell.
Em 2019, já sob o governo de Jair Bolsonaro e de sua política de desinvestimentos da Petrobras (forma de nomear o desmonte e venda de subsidiárias para multinacionais estrangeiras), a gestão da estatal vendeu o controle acionário da BR Distribuidora, deixando de ter poder sobre as decisões da empresa.
A BR Distribuidora era responsável por 10% das receitas da Petrobras.
Porém, o comprador, sem ninguém perceber (devido à diluição do capital), foi um grupo de investidores que controla a multinacional Shell.
E a parte da população brasileira que acredita que privatização vai gerar competitividade, foi enganada.
Para piorar, o modo que a operação foi feita não despertou preocupação por parte da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e nem do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que deveriam agir para evitar a concentração econômica e a cartelização (prática de combinar preços entre empresas privadas).
No final, o grande prejudicado foi o consumidor, com a formação de um oligopólio privado e com uma distribuidora privada gigante maximizando os lucros no caminho entre a refinaria e os postos.
Sem o controle da BR Distribuidora, a Petrobras não tem como garantir que a redução dos preços nas refinarias chegue ao consumidor.
Ganharam os donos das multinacionais. Perderam os brasileiros.
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